Cronica publicada em A Gazeta, em 2007.
Da varanda, na praia da costa, eu podia contemplar o mar azul invadindo o fim de tarde. Suas ondas lambiam as areias da praia em ondas sucessivas levemente ruidosas. Algumas pessoas caminhavam, outras praticavam esportes. Bem à minha frente um grupo de pessoas jogava futebol. Olhando um pouco melhor pude ver a figura de um zagueiro orientando seus companheiros para a melhor jogada e fazendo o possível para evitar gols contra o seu time. Abria os braços, indicava posições, “cantava” jogadas. Sempre, um sorriso no rosto. Afinal ali estavam amigos de longa data. Para ser mais preciso, jogam junto há mais de trinta anos, quando começaram lá no colégio Maristas, nas mesmas tardes de sábado. O zagueiro era o Abdo, remanescente do grupo inicial e testemunha ocular das belas jogadas que seus irmãos e amigos fizeram ao longo do tempo. Hoje, tenta ensinar aos sobrinhos, amigos de sempre e aos novos amigos a arte do futebol de areia.
Um dia depois, li no jornal que ele estaria se retirando de campo. Não o do futebol, mas o do Bom Dia ES enquanto apresentador e entrevistador. Feliz pelo dever cumprido, por ser reconhecido pela sua competência e pela dedicação ao trabalho. Assim como na areia da praia, orientava seus colegas jornalistas, indicava pautas, fazia o possível para não perder o jogo da notícia matinal. Ao seu lado na bancada no início e depois no meio de campo, armando as jogadas e escalando os jogadores, o trabalho competente da Marisa. Também ali estavam amigos de longa data e, assim como as ondas, sucessivos novos jornalistas ávidos por fazer gol: a notícia importante, bem editada, com qualidade e conteúdo.
Tive o prazer de ser convidado várias vezes e em todas pude observar o seu senso de didática nas entrevistas, pois sabia de seu compromisso com o telespectador: a clareza da informação ou da opinião do entrevistado. Lá dentro, no ar, a serenidade, a decisão rápida, a pergunta direta e pertinente. Às vezes usava a técnica de parecer não entender para que repetíssemos a resposta ou opinião e oferecer ao telespectador a possibilidade da melhor compreensão. No ouvido o “ponto”, a dica de alguém, algum detalhe não percebido. Um belo trabalho de equipe, como no campo, nas jogadas que culminavam em gol.
Isento, tratava a todos nós de forma jornalística e imparcial, atento ao “timming” da tv. Mesmo assim o vi várias vezes tão empolgado com o tema e o debate que parecia insatisfeito com esse limite temporal. Isso talvez o tenha levado a pendurar as chuteiras como apresentador do Bom Dia. Os fatos estão superando a notícia, a interpretação e a análise dos fatos. Pullitzer deixa o campo. Abdo, continua em outra posição.
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