Tuesday, April 27, 2010

God


Desde cedo eu ouvi falar em Deus. Minha mãe sempre foi muito católica e fervorosa. Por isso, inclusive, o meu nome começar por Antônio. De Santo Antônio. Lembro bem que ela tinha a figura de Santo Antonio em seu quarto. Essa mesma figura que encontrei em uma pequena igreja no interior da Áustria, recentemente. Então, Deus era algo que eu aprendi a pronunciar e reverenciar. Algo que ficou mais forte quando fui estudar no Colégio Maristas, em que sempre rezávamos antes de iniciar as aulas. Onisciente, onipotente, onipresente. Mas, invisível.

Já na adolescência eu quis saber mais sobre Deus e li avidamente muitos autores. Desde Santo Agostinho até Nietzsche. Spinoza e Einstein, mais tarde, quando resolvi estudar Engenharia. Lembro de um livro “Terra em ebulição” acho que de Velikovsky, que gostei bastante. E fui em frente, lendo sobre Deus. Ouvindo também, com Lennon e Raul Seixas definindo Deus. “God is a concept”, disse Lennon; “Deus é tudo aquilo que não consigo explicar”, sussurrou Raul. No geral o que lia variava entre acreditar que Deus existe e não acreditar em sua existência.

Entendi que, já que não o via, saberia de sua existência se um dia o sentisse. Acreditava nele por tudo que li e o reverenciava no meu próprio modo. E certo dia, algo aconteceu. Eu estava em Budapeste, Hungria. Fazia uma viagem pelo antigo império Austro Húngaro, saindo de Berlim, passando por Praga, Budapeste e chegando em Viena. Ia de trem, parando aqui e ali, quando desse vontade. Um easy rider sem moto. Momentos inesquecíveis. Como aquela manha em que me dirigi ao pequeno cais para entrar em uma embarcação leve, dessas de carregar turistas pelo Sena, e me deixar levar ao longo do Danúbio, contemplando o Castelo de Sissi, a Imperatriz, na margem esquerda, em Peste. Nessa foto aparece o Parlamento e havia poucas pessoas naquele barco, naquela manhã de sol tímido.

Eu coloquei um fone de ouvido e algumas musicas tocavam em seqüência enquanto a embarcação singrava as águas do tradicional rio que separa Buda de Peste. De repente, ao som de Liebestraum, de Liszt, dedilhada ao violão, eu não me senti. Fiquei etéreo. Por breves e intensos momentos fugi da realidade. Do mundo visual. Senti Deus. Fui por ele tocado, invadido com se minha alma fosse seu ambiente natural. Minutos depois estava eu ali, em uma barca com pouquíssimas pessoas, talvez três mais, feliz da vida. Lembrei da minha mãe e de sua crença incondicional que Deus existe.

Ate hoje guardo a sensação que Deus me tocou. Uma sensação divina.

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