Wednesday, April 21, 2010

Bday in New York


Fui o primeiro a chegar ao poste. E lá me encostei, olhando as pessoas andarem pelas ruas e calçadas do Village. Sim, fiquei ali, ao poste, até o Bluenote, em New York, abrir. É que eu não gosto de sentar nas mesas daquele templo da música. Gosto do balcão. Na última cadeira alta, no final daquela linha de copos pendurados de cabeça para baixo, reluzentes e coloridos pela luz do ambiente. Como sou o primeiro a entrar escolho onde sentar. E fico ali. Giro para direita e peço meu Logan com bastante gelo. Viro para a esquerda e vejo o templo sagrado do Jazz e quem nele está tocando ou cantando. Naquele dia de meu aniversário eu estava, por volta de sete da noite, aguardando o Bluenote abrir. Junto comigo, na linha do poste, umas cinco ou seis pessoas. Logo ficamos amigos, coisa de quem gosta de música boa.

Tinha um dinamarquês, com seus trinta e poucos anos, que não parava de falar sobre o baixista, também dinamarquês, que acompanharia o famoso músico daquela noite, como há vários anos. O presente que me dei naquela noite foi ouvir, ao vivo, Oscar Peterson. O fenomenal pianista de Jazz, ali no Bluenote. Na boemia de New York. Chegada a hora, entramos e nos posicionamos, sedentos e ansiosos. O Bluenote é indescritível, é o Taj Mahal do Jazz. Não é um lugar, é um espaço de tempo, de emoção. Logo, todo mundo estava conversando com todo mundo, a não ser alguns poucos, fechados em seus pensamentos, encarando pensativamente o copo em que bebiam. Eu cheguei só e agora estava cercado de pessoas super interessantes.

Depois de algum tempo, anunciou-se o início do show. Sua majestade, o lendário Oscar Peterson, adentrava o recinto. Roupa escura, gravata borboleta, tinha o sorriso que sempre vi em capas de discos antigos ou CD. Um silêncio de respeito e admiração encheu a sala. Depois, em fração de segundos, as palmas. Como eu estava bem posicionado, à entrada do caminho que leva ao pequeno palco, ele parou um momento ao meu lado. Toquei seu braço apoiando minhas mãos e disse: Oscar, eu sou da terra de Tom Jobim. Ele virou-se, olhou em meus olhos e disse: The best! E vou tocar uma música dele para você. E assim fez. Soberbamente. Uma pessoa, do “uptown” que estava na banqueta ao meu lado e ouvira o que Oscar dissera, falou: que presente, hein! .

Sim, quando posso, eu gosto de comemorar meu aniversário assim. Em lugares especiais. Quando não posso, também.

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