Wednesday, March 03, 2010

Terremotos do tempo


Os últimos acontecimentos meteorológicos podem ser usados pelos ambientalistas para defesa de seus argumentos em favor da preservação ambiental. Os exemplos têm sido freqüentes e de uma intensidade calamitosa. De inundações a terremotos o sofrimento humano parece ser interminável. Usar esses fatos como argumento que proponha maior preservação da natureza é muito importante e salutar. Mas, buscar posicionamentos que coloquem as forças naturais como vilãs do infortúnio contemporâneo é exagero. A natureza não é vingativa como muitos podem pensar ou inferir. Não se trata de uma retaliação ou um revide as mutilações que nela fazemos. Como se ela reagisse contra a irracionalidade humana.
Tremores e enchentes existem há centenas de anos. O próprio Chile já conhece terremotos há muitas décadas. Se sempre é algo relativamente imprevisível, também é sempre esperado em vários locais. Vila Velha e outros municípios capixabas sabem que devem temer inundações. A cidade sabe disso desde a década de 50 e que precisa de seus canais de escoamento e drenagem. Mais de cem anos atrás, Lisboa foi fatalmente atingida por um terremoto impiedoso. São Francisco, na Califórnia, também, várias vezes. Furacões varrem o Caribe com a animosidade de sempre, de ano em ano. A Praça de São Marcos, em Veneza, inunda-se com a precisão de um antigo relógio Suíço, desde o auge de seus mercadores. O Rio Doce gosta de lamber os municípios desde que o Jipe era o único veículo que atravessava suas estradas enlameadas. Em 1979, o Espírito Santo conheceu a força das águas mortais, cobrindo seu território com lágrimas inesquecíveis.
O Tempo dessas catástrofes é franco e sincero. Mas, incerto. Cabe a nós, portanto, organizar mecanismos de proteção e amparo às suas vítimas. O momento é de solidariedade e colaboração, mas deve ser também de cobrança. É inaceitável que nossas cidades não tenham ainda desenvolvido e aplicado códigos de postura e leis de ocupação do solo ao longo de seu tempo de existência. Que não tenham condições de realizar trabalhos de contenção de encostas e desassoreamento de rios. Que não tenham estruturas de saneamento que minimizem seus impactos. Que não tenham estrutura de saúde pública para atender os necessitados. O cerne da questão está no ser humano, gestor público ou cidadão, e em seu desrespeito a si próprio. Pobres ou ricos, todos estão no mesmo barco e à deriva em termos de prevenção e adequação sócio-ambiental..
Culpar a natureza é bem fácil. Dizer que ela é vingativa e má, é uma desculpa. Que tudo é culpa do aquecimento global, do derretimento das calotas polares, do desmatamento. Dos aterros que fazemos. Falácias. Não se trata apenas disso. Na verdade temos que fazer uma “mea culpa”. Não há tanta maldade na natureza. Ela não julga para depois punir ou recompensar. Ela nos dá a vida. Todos os dias. E dela devemos cuidar para manter a nossa própria e a dos outros também. E mesmo assim prevenir-se, pois a natureza tem sua inspiração no acaso.

No comments: