Saturday, March 20, 2010

Fico!


Paulo Hartung deve se perguntar por que escrevemos tanto sobre ele. Pergunta porque é vaidoso e sabe que a resposta é: poucos sabem unir inteligência e poder como ele. Sabe como ninguém que inteligência política apenas não resolve. É preciso ter poder. Caneta na mão. Tudo bem que não é mais uma Parker 51 como eu sugeri em outro artigo, pois alguns eventos recentes em nível nacional e internacional reduziram o brilho de seu ouro, mas ainda há tinta. Bastante tinta. Suficiente, por exemplo, para nomear mais um conselheiro do Tribunal de Contas; para assinar contas publicitárias institucionais sobre a questão prisional; sobre o Pré-Sal, para definir ordens de serviços em prefeituras; para nomear servidores em primeiro escalão ou não.
A sua decisão de hoje só causou surpresa aos menos antenados. Sair do governo no momento em que ele vive seu pior momento, com tendência ao agravamento de questões relacionadas aos direitos humanos seria non-sense. Achei que ele iria até cancelar o lançamento do livro para não passar pelo constrangimento de ver notícias boas, selecionadas estrategicamente, serem ofuscadas pelas manchetes de jornais e mídias isentas e compromissadas com a verdade. Nua e crua. Quem foi pego de surpresa foi o próprio governador, com a repercussão do caso das prisões e da questão do petróleo. Esses assuntos vão provocar desdobramentos indesejados, seja no que diz respeito ao uso do dinheiro até agora recebido, seja pela desigualdade entre municípios de nosso Estado. E isso, provavelmente, fez Paulo alterar suas decisões.
Seus adversários já estavam com o paiol cheio de munições. A artilharia de prontidão. Paulo candidato ao Senado é um alvo muito diferente de Paulo Governador. Os prefeitos terão mais dificuldade de apoio explícito a outras candidaturas que não tenham suas bênçãos. Se essa minha percepção estiver correta, creio que quem perdeu foi Ricardo Ferraço. Parece que o governador não o viu como um guerreiro suficientemente habilidoso e implacável para defendê-lo de potenciais ataques na campanha. Paulo sabe lidar bem com isso, mas sem a caneta do Executivo, com bastante tinta e coragem para usá-la, é mais difícil. Ricardo já demonstrou ser um fiel escudeiro pelas suas reconhecidas qualidades e competências, mas não sabe contra atacar ou neutralizar ataques como Paulo. Haja vista a questão Ricardo-Luiz Paulo, que, inclusive, fez o arguto tucano ser reconhecido como legítimo e competitivo postulante ao cargo de Governador.
Como se diz no tênis, o jogo só acaba quando termina. Paulo tentará escrever mais um capítulo do livro hoje lançado, retocando sua história e depois, quem sabe ser Ministro do próximo Presidente e aí tanto faz ser Dilma ou Serra. O que importa é o poder. A caneta, sempre reluzente, Parker 2011. Quando diz que fica para cumprir um compromisso republicano, um contrato com o povo, parece esquecer que largou o Senado para ser Governador. Fica para tentar permanecer na História na dimensão que deseja. Não fui convidado para a solenidade. Portanto, não vi o brilho de seus olhos para saber se estava feliz ou triste com a decisão tomada. A vida pregou uma peça em Paulo e não dava para sair com essa exposição negativa dos presídios e pré-sal. A primeira, por decisões erradas dele mesmo, a segunda, por nítida falta de prestígio com Lula. Não havia outra saída senão ficar e tentar remediar isso até o fim do governo. Com a caneta na mão para evitar ataques maiores.

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