Monday, December 14, 2009

Nanopib










Em um artigo publicado em meios de comunicação, semanas atrás, eu comentei sobre a postura brasileira frente aos assuntos internacionais. Considerei, e ainda considero uma postura no mínimo arrogante, equivocada e não aderente à nossa diplomacia. Fiquei satisfeito em ver, dias depois que Paul Krugman, Merval Pereira, Clóvis Rossi e outros renomados comentaristas assim também entenderam e publicaram suas percepções. Desde decisões arriscadas como a aproximação nítida com o Irã até a decisão de o diplomata americano Arturo Valenuela não ser recebido pelo Chanceler Celso Amorim, mas sim pelo assessor do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia. No Itamaraty, tudo indica que o norte-americano será recebido por Antônio Patriota, assessor do Chanceler brasileiro. Sobrenome bem sugestivo, pois parece que nossas relações internacionais querem reviver o Brasil 70: “Ame-o ou deixe-o”; “Ninguém segura esse país”. A desculpa, ou seria justificativa, é que Amorim só deve falar com Hilary, por questões hierárquicas. Uma bobagem imensa. O que importa é o resultado, não necessariamente a hierarquia.
Nelson Rodrigues deve estar teclando sua Lettera 22 lá em qual dimensão existencial esteja. Quando imaginava que o seu “complexo vira-lata” estaria sendo vencido, nas palavras de Rossi, eis que surge o "complexo da megalomania". O nosso presidente e seus assessores dão puxões de orelha para lá e para cá, ironizam a situação de países em dificuldades financeiras e bradam contra a emissão de CO2 soltando arrotos pecuários. Quem diria. Da sandália bambolê para o couro de Milão, do chinelinho de pano para o salto scarpin de 15 cm. Claro, um escorregão ou uma queda pode ser fatal. Nem mesmo as enchentes de São Paulo com seu PIB imenso, nem mesmo os panetones de Brasília, nem a censura ao Estadão, nem mesmo a falácia do PAC, nem a desigualdade social ou o grave crescimento do endividamento pessoal impõe cautela às nossas autoridades. Nada disso ensina ao Brasil e seus representantes que há muito dever de casa por fazer.
Chega a ser engraçado o ministro Mantega falar garbosamente do nosso “Pibão”, ao, ironicamente, chamar o crescimento da União Européia de “Pibinho”. Parece que o Ministro não entendeu bem as aulas de História que freqüentou ou não lembrou das conquistas sociais que foram impostas aos gastos dos governos daquela região. Algo que não ocorreu aqui na mesma intensidade. Alem disso, se comparado ao crescimento dos Brics, o mais correto indicador, o nosso crescimento seria um nanopib.

3 comments:

Shalom said...

Professor,

Excelente artigo. Aliás, excelentes textos no blog.
O senhor utiliza a expressão exata referindo-se a atual postura da diplomacia brasileira: ARROGÂNCIA.

Realmente, o atual governo rompeu com toda uma tradição histórica da diplomacia brasileira, que sempre foi orgulho para nós, desde os tempos de Joaquim Nabuco e Rio Branco. Me soa irrespansável tratar a diplomacia como objetivo de governo e nao de Estado. Espero que o legado diplomáico dessa trupe, que tem dado mancada atrás de mancada, com casos como do do Zelaya, da aquisição dos caças, dos alinhamentos quase-que-ideológico com países como o Irã, etc, não manche o passado glorioso e a reputação da nossa casa de Diplomatas.

Um grande abraço do seu novo-assíduo leitor,
Shalom.

Adriano Pandini said...

Grande Professor Antonio Marcus e amigo Shalom,

bom essa já era minha percepção há algum tempo, desde os comentários do Ministro Celso Amorim quanto ao fracasso da rodada de Doha, comentários estes que desde então já implicavam uma certa arrogância expressa contra o nosso principal parceiro de longas datas, o gigante do norte.Interessante que a política externa brasileira atual parece não mais corresponder aos parâmetros diplomáticos tradicionais. Ainda que o peso do Brasil na balança de poder (diria regional) tenha aumentado com os ganhos econômicos da última década, a verdade é que ainda somos uma democracia em construção muito aquem do que se almeja. Álias a quem muito é dado, muito lhe é cobrado...sinceramente acho que teriámos mais a ganhar com a cooperação do que com uma afronta política declarada. Os EUA enchergam o Brasil como um parceiro no estabelecimento da democracia na América Latina e não um rival. Mudar uma situção de dependência econômica é louvável porém alianças políticas ideológicas conflitantes enviam menssagens ambiguas em um cenário internacional já bastante afetado pelo extremismo de alguns.

Espero ver uma mudança de estratégia em breve.

Um grande abraço
mais um leitor ex-aluno
Adriano Pandini

Antonio Marcus said...

obrigado! é uma honra tê-los como leitores...abraços