Thursday, December 24, 2009

Central Park capixaba



Ao telefone, a jornalista de um meio de comunicação local me perguntou: “Professor, o que você tem a dizer sobre a questão dos recursos para o aeroporto de Vitória?”. Além do óbvio de que há suposições e indícios de improbidade administrativa que levam à investigação necessária, eu ponderei que o atraso de suas obras prejudica muito o projeto de crescimento estadual. No caso brasileiro, que não dispõe de uma rede ferroviária e conta com uma rede rodoviária ultrapassada e em péssimas condições, os aeroportos são fatores determinantes para a obtenção da competitividade no mundo contemporâneo. A memória de nossos investimentos estruturantes nos leva à dependência de aeronaves. Até a navegação de cabotagem ainda é tímida, senão inexistente proporcionalmente à sua potencialidade.

Mas o que me preocupa na questão do aeroporto estadual não é o cronograma de suas obras apenas. Mas, sua localização. A construção ou reforma de aeroportos deve levar em consideração perspectivas que se projetam no mínimo 50 anos à frente. Essas projeções incluem a proteção ao ser humano, fazendo com que seus projetos se realizem em locais bem afastados das áreas residenciais. A tendência é o aumento do movimento aéreo, o aumento das dimensões das aeronaves e a intensificação do uso de helicópteros, notadamente no nosso Estado.

A atual localização do aeroporto de vitória não atende essas perspectivas. Não passa sequer por uma análise decenal. Já é um modelo esgotado em termos de acesso e dimensões. Assumirá as características de um Pampulha, um Santos Dumont, um Congonhas, com todos os seus danos e riscos.. A expansão residencial e comercial daquela área é expressiva. Haja vista a construção de um shopping em local muito próximo ao seu ângulo de aproximação. Alem disso, várias empresas de grande porte com centenas de funcionários diuturnamente, estão inseguramente próximas. Em seu novo traçado, as aeronaves se projetam em direção ao mar, a praia. Em fins de semana suas areias estão repletas de banhistas e o calçadão está sempre bem prestigiado com muitos caminhantes e corredores.

Então, essa notícia de paralisação do repasse de recursos para sua reforma tem seu lado bom. Quem sabe as autoridades tenham tempo para refletir, reavaliar e pensar em outros locais. Tanto ao norte, em que ainda existem áreas pouco habitadas e passíveis de utilização, por exemplo, na Serra; quanto ao sul, nas mesmas condições, ao longo dos municípios de Viana e Vila Velha. Os aeroportos contemporâneos devem evitar o perímetro urbano adensado, sempre que possível for e nós temos essas opções na Grande Vitória. É tudo uma questão de bom senso, de visão de futuro e de respeito ao ser humano.

A área atual, daria espaço para novas moradias, novos negócios, hotelaria e, principalmente, um jardim Botânico, como o do Rio mesmo, deitando-se em direção ao mar de Camburi. Centenas de moradores, empresas, turistas e pesquisadores científicos seriam beneficiados. Viveiro de plantas nativas, boulevards ajardinados, árvores e plantas da mata atlântica seriam os donos de um bom pedaço. Não adianta pensar global e ficar fazendo discurso na cidade de Copenhagem. Tem que agir local. Se muitos anos atrás alguém vislumbrou o Parque Moscoso, por que não agora alguém vislumbrar esse paraíso em meio à selva de concreto e de maquinas industriais em que se revela a fotografia da Grande Vitória.

Nós podemos ter nosso Central Park, e, a exemplo de lá, sua manutenção poderia ser objeto, inclusive, de participações da iniciativa privada. A competente jornalista Beatriz, de A Tribuna, ouviu mais do que me perguntou. Extrapolei sua pauta. Mas sonhei acordado e vislumbrei um investimento muito mais adequado que a reforma de um aeroporto que já nasceu com jeito de rodoviária.

No comments: