Thursday, June 04, 2009

Um País Inacabado


Cada vez mais, devido à sucessão de fatos lastimáveis, o Brasil se assemelha a um país em eterna construção. Não se sabe ao certo se atingiu a juventude ou ainda permanece em uma infância muito influenciada por valores e princípios indesejados. Muitos países têm seus defeitos e imperfeições, pois assim são os seres humanos de forma geral. São os humanos, com suas leis, costumes e hábitos que definem a identidade de um país. E assim se formam e são reconhecidos por seus aspectos peculiares, exemplares ou inaceitáveis em outras culturas e polêmicos.
Quando fiz palestra para meus alunos da West Virginia University, agora em maio deste ano, levantei temas complexos como a existência, nos dias de hoje, de pena de decapitação por golpe de espada na Arábia Saudita, de pena de morte nos EUA por injeção letal e de garrote vil até fins dos anos 70 na Espanha, aplicado em Salvador Puig, preso após lutar contra a ditadura de Franco. Aqui, prisões em containeres e celas com mais de 200 presos onde caberiam apenas 32. O que diz respeito a eles é que essas condições podem ser resultado de uma tradição equivocada, mas consuetudinária, de um arcabouço legal secular contestável ou algo semelhante. É como se fizessem parte de uma História que precisa ser mudada. Em nosso caso trata-se de um procedimento sem vínculos que tenham alguma lógica e não podemos aceitar que se constitua na construção de nossa história. Muito jovem, o Brasil pode escrevê-la melhor.
Se na área jurídica responsável pelo modelo prisional estamos na direção errada, também na área política estamos utilizando uma grafia tragicômica. Quem está no Senado, com a nobre função de fiscalizar e avaliar as obras e os gastos do PAC é Collor. Sim, aquele que um dia foi defenestrado da Presidência da República. Na presidência do Senado, uma pessoa que o Brasil conhece bem, “Sir Ney”, que virou Sarney, cuja família manda e desmanda no cenário político e tem como quintal o Maranhão inteiro. Recentemente, ele não “percebeu” que depositavam indevidamente mais de R$ 3.000,00 em sua conta. Na Câmara dos Deputados, os fatos são tantos que os jornais não se cansam de noticiar. E muito são aqueles que voltaram depois de envolvimentos espúrios.
Na questão do desenvolvimento, continua a falácia do crescimento econômico e financeiro, a construção do populismo e das políticas assistencialistas. A popularidade advém do gasto público insustentável e do carisma individual das autoridades investidas de poder. Não há percepção coletiva. A qualidade de vida e de saúde se concentra em uma pequena e desproporcional parcela da população. O Brasil lembra a França monárquica e sua relação com a plebe. Brasília passa a lembrar Versalhes, com menos glamour, mas com a mesma intolerância e miopia social. Não há como pensar em desenvolvimento futuro se não qualificarmos a vida social de um país sempre inacabado como o nosso.

No comments: