Thursday, March 12, 2009

Lula, Dilma e a SELIC


O Comitê de Política Monetária divulgou mais uma redução na taxa SELIC. Agora, da ordem de 1,5 pontos percentuais, mas ainda continuamos campeões no torneio de taxas reais (descontando a inflação) de juros elevados. Pode-se dizer que a taxa em questão é um fator determinante nas decisões que os bancos tomam quanto aos tomadores de seus empréstimos. Quando ela está alta significa que emprestar ao governo é um bom negócio, considerando o retorno dessa aplicação de recursos financeiros. Até porque o governo tem sido um bom e pontual pagador. Quando ela está baixa, os bancos tendem a evitar alocar esses recursos nas mãos do ente público e, preferencialmente, os disponibilizam para os cidadãos e clientes do sistema bancário de forma geral. Nós, os cidadãos e empresários. É a velha e conhecida lei da economia. Quando eles emprestam ao governo sobra pouco para nos emprestar e os juros que nos cobram são elevados pela escassez da moeda à nossa disposição. Quando não emprestam ao governo, têm muitos recursos financeiros para nos emprestar e assim, podem trabalhar com taxas de juros mais convidativas e sedutoras para seus usuários. A velocidade com que essa taxas caem para o público depende da própria capacidade de articulação e negociação desse tomadores de empréstimos.
Particularmente eu esperava uma queda de 1,75, levando a SELIC ao patamar de 11%. Mas, sei o dilema que isso representa. Do lado do governo, a queda acentuada da taxa de juros que ele paga a quem o empresta pode levar esses empréstimos para o mercado. A perspectiva monetarista recomenda cautela nessa situação, pois mais dinheiro ou maior acesso ao dinheiro pode ocasionar inflação pelo aquecimento da atividade comercial e da própria atividade econômica em suas várias instâncias. Com queda de crescimento interno e com projeção de crescimento global próximo de zero, a inflação vira um mal maior ao se revestir de estagflação, a soma de inflação e ausência de crescimento. Já a perspectiva contrária aplaude a queda da taxa de modo que a economia esteja irrigada com crédito e dinheiro, no momento em que a prosperidade está sendo bombardeada pela depressão e, quem sabe, pela recessão. A atividade econômica se revigora, o desemprego se retrai e os fluxos econômicos circulam de forma virtuosa. Até porque, devido ao clima de desconfiança, a concessão de empréstimos e o acesso ao dinheiro serão mais criteriosos e não provocarão inflação de demanda de forma imediata e acentuada.
Uma questão adicional, entretanto, parece se impor e aumentar a complexidade do dilema: a política. Para o presidente Lula, que já tem candidata à presidência, a queda de juros pode reduzir seu arsenal financeiro para subsidiar ações populistas que o mantém em alto nível de popularidade, como Bolsa Família. Também, pelo mesmo motivo, reduz sua capacidade de acomodar alianças via expansão de gastos públicos com cargos e outras benesses. Inteligente, Lula sabe que esse é o principal dilema que a crise lhe trouxe. Perder o aporte de recursos do sistema bancário e fragilizar sua perspectiva política ou inviabilizar o país com a aridez no mercado. E o que talvez lhe roube o sono é que este, o mercado, mesmo irrigado, não incrementará de forma substancial e veloz a receita pública, pois a crise aumenta a informalidade e reduz a propensão ao consumo. O que lhe favorece, politicamente, é que os potenciais adversários de sua pupila representam cidades industriais como São Paulo e Belo Horizonte, principalmente. E a queda na indústria superou em muito a queda do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Desemprego e preços elevados em cidades industrializadas definitivamente são péssimos cabos eleitorais de quem as comanda.

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