Tuesday, February 15, 2011
Democracias
O Egito, uma das mais importantes sociedades da história da humanidade, está em convulsão. Apoiados pela Turquia, o outrora império otomano, forte e semeador hegemônico do mundo árabe, os egípcios inundaram as ruas como se fossem rios caudalosos de insatisfação e clamor por democracia. Pela liberdade e pelo direito de escolha. Mas, o que está acontecendo com a democracia? Será ela a redenção da angústia daquele povo desafiador? As décadas recentes parecem dizer que não. A democracia foi corroída pela corrupção, pela ambição individual e pela incapacidade de selecionar o melhor para o pleno exercício da cidadania. Mesmo as nações mais desenvolvidas do mundo escolheram, de forma livre e soberana, muito mal. E repetiram a escolha errada em novos mandatos democráticos. É possível entender que a tríade democracia, autocracia e tirania não é mais suficiente para explicar ou conduzir a gênese humana. Todas essas modalidades de governo estão cometendo erros crassos, acintosos. E ficam, sem distinção, impunes. Precisamos de uma nova filosofia, uma nova concepção de como organizar as sociedades em direção ao futuro.
A mesma democracia que se propôs derrubar o tirano egípcio reelege seguidamente Sarney para presidente do mais elevado posto democrático, a presidência do Senado. Elege Tiririca, Romário e Popó, sem querer desmerecer qualquer um deles, mas por querer merecer outros mais qualificados. A beleza da força democrática, sob influência do jogo do poder político, que elege uma ex-combatente contra um regime ditatorial para a presidência de uma república, é capaz de locupletar-se nas horripilantes caras da porta do inferno de Rodin. A busca pela democracia como o bálsamo sagrado que cura as chagas da maldade de seus antônimos parece ter se transformada, quando atingida, em uma quimera. Uma dissonância cognitiva. Às vezes me percebo cético, descrente. Onde andará a sabedoria popular? Nas festas das mansões de Berlusconi? Subindo a rampa do Senado brasileiro? Nas “limestones” da casa branca? Nas tendas de Aghadir?
Pelo que parece ela desapareceu. O que ficou foi a vontade popular. A vontade de se dar bem, de acumular o máximo possível e inebriar as pessoas apenas com o tilintar das moedas de ouro. A democracia foi drasticamente derrotada. Ou está esvaíndo-se em sangue incolor. Quando Fukuyama retomou Hegel e falou sobre “O Fim da História”, poderíamos incluir o fim da democracia como sempre a idealizamos? Essa pergunta é um desafio e parece que não estamos aptos a superá-lo. As eleições, da maneira que são realizadas, ficaram anacrônicas, inócuas. Nosso voto significa muito pouco. Representa muito pouco e quando muito, tem sua representatividade distorcida por candidatos que vencem sem ter votos, mas uma boa rede política. Uma teia de aranha pegajosa suspensa sobre os cabedais da ignorância política. E para nosso desespero, não existem mais filósofos como antes. Agora, são autores de auto-ajuda, de devaneios místicos. De onde se menos espera é de lá que nada sai mesmo, diria o sábio popular. O importante é não desistir. Ir à luta, ainda que vã.
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