Tuesday, June 29, 2010

Cores Africanas




Uma das coisas que mais chamam a atenção na Copa da África são as vuvuzelas. O som incomoda. Não tem variações em bemóis e sustenidos. Nem variações sonoras sofisticadas. Tudo vem do sopro, do jeito peculiar de soprar o ar ao longo de um tubo colorido. Sim, as cores fortes também chamam muito a atenção naquele continente. As pessoas, originariamente negras adoram se vestir coloridas, vibrantes, reluzentes. Sorridentes, adoram dançar e festejar nos estádios. Bintou Diao é uma africana de Mali e esteve nos visitando por alguns dias aqui em minha casa. É estudante de economia na Universidade de Marshall, nos EUA. Nem sempre entende o que outros africanos falam na televisão. Diz que os dialetos são muitos. Além disso, a língua estrangeira se fez muito presente. Ela, por exemplo, fala francês fluentemente. Em seu país, apesar de estar na África, fala-se francês com facilidade. Mas seus países vizinhos podem se comunicar em português, inglês, holandês. A África é uma colcha de retalhos. Uma configuração européia.

Nem sempre foi assim. No início se viu no caminho para o Oriente e os Europeus a desejaram e a possuíram de forma predadora. Quando perceberam a enorme possibilidade de utilização de mão de obra escrava, desarticularam etnias, hábitos, costumes, tradições. O continente virou um caldeirão, como seu principal estádio é representado. Ingleses, Franceses e Holandeses, principalmente, ocuparam suas melhores áreas costeiras expulsando os Portugueses que ali haviam se estabelecido, desses domínios. A escravidão se amplia. Só quando os Ingleses decidem investir na comercialização de ouro e marfim a escravidão é combatida. Havia necessidade de força de trabalho para esse novo tipo de trabalho local e a liberdade gerou um novo aprisionamento.

Cobiçada, a África é partilhada inicialmente no célebre encontro de Berlim, em 1884. Com isso, 90% daquele maravilhoso continente pertenciam a Europa: portugueses, franceses, alemães, espanhóis, belgas e italianos. Mas, o grande destaque era o império britânico. Onde o sol não se põe, dizia-se à época. A poderosa Rainha Vitoria era dona da maior parte do mundo. Inclusive de boa parte da África. A ocupação histórica da África, feita de forma predadora, exploratória, levou a região a um desencontro de etnias e línguas impressionante. A pobreza ampliou-se. Doenças e endemias cresceram e a escolaridade é precária. Estamos em 2010 e a televisão nos mostra implacavelmente o resultado da exploração pela elite européia daquele continente. Só não foi possível lhes tirar o gosto pelo som e pelas cores. E pela dança contagiante. A alegria de viver.

Uma cena recente, de dois dias atrás, chamou nossa atenção. Quando o jogo iniciou-se e uma seleção africana fez um gol os jogadores comemoraram em campo e aqueles que estavam no banco se dirigiram para abraçar o técnico, branco, certamente europeu. Ele se esquivou, evitou o aperto espontâneo e carinhoso de alguém no banco de reservas que torcia muito pelos seus companheiros e saiu de lado. Ele não era um ser humano feliz como os africanos. Era apenas um profissional que cumpria seu ofício a troco de bons salários. Talvez pensasse que estivesse na época do domínio colonial europeu e se desvencilhou de seus escravos. A África, ao que parece continua rica, colorida, sonora, humana, mas dominada. Coincidentemente, seus tons são o verde e o amarelo.

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