Monday, November 16, 2009

Laramie



Quando cheguei a Washington, semana passada, as cerejeiras não estavam floridas como em abril. Uma chuva fina insistia em cair inibindo a beleza dessa linda cidade. Plana e com prédios imponentes que não passam de quatro andares, pois nenhum prédio, por lei, pode ser mais alto que o monumento a George Washington, a cidade é uma aula de História norte-americana. Gosto de sentar na Union Station, tomar um café latte e imaginar as tropas da guerra de Secessão chegando e saindo. Lincoln, mesmo, muitas vezes em seus deslocamentos de origem e destino caminhou por aquele ambiente imponente.

No lobby do hotel em que me hospedei, pessoas andavam para lá e para cá, depois de ótimas palestras e comentários sobre intercâmbios acadêmicos e culturais. O nome mais citado, pelas autoridades governamentais, professores e alunos, palestrantes e ouvintes em geral era Kennedy, seja John ou Bob. Há uma nítida tentativa de recuperar alguns ideais e algumas ações concretas como o Peace Corps. Certa vez, ainda senador, ao falar para um grupo de universitários em Ann Arbour, Michigan, John sugeriu que as pessoas se interessassem por realizar trabalhos voluntários em outros países. Dois anos depois, já presidente, criou oficialmente o Peace Corps. O Corpo de Paz, que o Brasil recebeu inúmeras vezes. O Espírito Santo inclusive. Há polêmicas e controvérsias sobre suas atuações efetivas, mas a idéia é muito apropriada para o presente momento.

Obama é mais do que uma esperança. É uma tentativa dedicada de recuperar a identidade de uma nação que se perdeu com a imagem de dominador global oferecida pela queda do muro de Berlim e do modelo socialista de produção, acumulação e distribuição de riqueza. Mas o esforço é ainda maior, pois é preciso, além de recuperar essa identidade, construir uma nova imagem global. Pelo que tenho visto nessa conferência e nesse encontro internacional nos limites do continente americano, há uma forte probabilidade de isso acontecer pelo menos na América Central e no Caribe.

A questão central parece ser a luta que os irmãos Kennedy e Martim Luther King travaram pelos direitos sociais assegurados aos cidadãos de seu país. Havia uma frase muito significativa que dizia “to pass the torch”. A tocha da liberdade, da realização pessoal, dos direitos humanos e da paz. Os três a iluminaram, a acenderam, mas lhes foi roubada a chance de mantê-la acesa ao serem assassinados. Depois, veio Bush e apagou a tocha. A imagem da terra da liberdade e da oportunidade ficou manchada. As torres caíram e o presidente levou uma sapatada. Hoje os norte-americanos sabem que é preciso reacendê-la. E buscam entender como. O passado não é uma opção mais, o futuro, sim.

E eu tive o prazer de conhecer alguém, nessa viagem a DC, que, apesar de todas as dificuldades anteriores desenha o seu futuro com os traços e as cores da luz de seus olhos. E que desenhou em seu próprio corpo a palavra truth porque acredita em si, em seu coração e em sua alma. Em Laramie é possível encontrar o seu sorriso, a sua alegria e a sua vontade inquebrantável de construir o seu futuro. Seu nome é saudade. A saudade do caminho que se fez caminhar.

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