Thursday, May 14, 2009

O cassino e a poupança



Não tenho por intenção ocupar o pensamento e o raciocínio do leitor com números e estatísticas comuns aos textos cheios de “economes”. Pretendo apenas deixar a opinião clara de que alguns de nossos governantes apagam, letra por letra, a frase cunhada pelo ufanismo de anos anteriores: O Brasil é o país do futuro. Jatos indeléveis de tintas obscuras apagam essa visão. Para os economistas clássicos poupança é fonte geradora de investimentos, de crescimento econômico, no sentido de que tem a condição de acumular e multiplicar. Necessariamente, nessa ordem. Mais tarde, os economistas acrescentaram a componente “crédito” para alavancar sua velocidade. E os dias de hoje mostram que se essas duas variáveis não forem bem combinadas e administradas é possível obter velocidade, mas chegar ao lugar errado, como disse certa vez, Gandhi. Depois de várias reuniões de gabinete, com direito a bater bola com Ronaldo no intervalo, o governo federal decide mudar as regras da poupança. E, mais uma vez, o brasileiro comum, aquele que sabe das incertezas do futuro e decide se prevenir, é penalizado.
Avesso aos cassinos financeiros, procurou abrigo na poupança, na concepção de que o pouco e certo, muitas vezes repetido pode levar ao muito. Resoluto, na artificial prosperidade recente, perdeu para os fundos de investimento que proporcionam aos bancos aproximadamente 10 bilhões de reais por ano, e ao governo, que lhes entrega títulos do tesouro (dívida pública), uma considerável quantia de recursos para realizar seus gastos e financiar suas mordomias. Aliás, essas continuam intactas e não sofrem reduções necessárias. Como se fossem blindadas pela vaidade, pela arrogância e pelo provincianismo. Enquanto se vê o poupador ser prejudicado e não importa se tenha 10, 20 ou 80 mil em conta poupança, subsecretários, assessores e algumas outras “autoridades” têm motoristas, carros e gasolina, celulares de ultima geração e internet móvel, só para citar algumas. Enquanto uns poupam em direção ao futuro outros desperdiçam o presente mudando a direção do futuro em seu próprio benefício. Como não há transparência efetiva, da forma como nós temos que ser com a nossa renda e riqueza ao fazer o imposto de renda, pouco sabemos sobre os gastos do Estado. Apenas o que os governantes anunciam.
Como se fosse algo notável, alguns governantes apresentam redução de gastos em contas de luz e outras despesas correntes. Porem, o custo da “mordomia” continua o mesmo, ou até crescente. Enquanto isso, trabalhadores do setor produtivo estão sendo demitidos ou colocados em casa com redução de remuneração. Eles e seus supervisores e gerentes vão para o trabalho de ônibus da empresa ou no próprio carro. Não têm estabilidade. E o salário médio da classe produtiva é bem menor do que o do Executivo, do Judiciário e do Legislativo. A poupança, então, lhes é uma ferramenta importante e vital. Mas, de tanto ser desmoralizada, ela própria parece não merece-los, ou merecer apenas a sua desconfiança.
Em plena crise de confiança, em que o modelo arriscado de acumulação e alocação de recursos está sendo analisado, intervir negativamente na poupança é uma atitude no mínimo irresponsável. No máximo, incompetente. Sinta-se à vontade para adjetivá-la.

No comments: