Thursday, May 21, 2009

Darwinismo mercadológico



As crises econômicas e financeiras, de forma geral, expõem certas características do mundo das organizações empresariais. Na crise, algumas assumem o desenho de um V, quando chegam ao fundo do poço e retornam à superfície. Outras assumem a forma de U, quando chegam ao seu máximo agravamento e emergem depois de um determinado período de tempo não muito longo. Várias assumem o desenho de um L, quando chegam às piores condições, aos tímidos indicadores e ficam um longo tempo assim, muitas, nunca mais vendo a luz do sol. Nesse ultimo traçado, aquelas que conseguem sair do fundo do poço, voltam mutiladas e sofrem seqüelas de efeito retardado. De tal forma e intensidade que não conseguem ser as mesmas quando alcançam patamares de produtividade e eficiência anteriores e quando se encontram no que imaginam ser a superfície. Na verdade, trata-se de um degrau abaixo da superfície. Alem disso, perdem o âmago do sucesso empresarial, qual seja o orgulho corporativo. E novas crises curtas e subseqüentes lhes irão mostrar que são pouco criativas e inovadoras. Normalmente são organizações que desconheceram a crise ou tentaram descontruí-la com frases de efeito e atitudes com defeito congênito.
As primeiras, em V, são aquelas que estão sempre atentas ao futuro e às variáveis que o configuram. Sabem ser flexíveis e ágeis no sentido de identificar e reconhecer condições adversas. Reagem imediatamente e desenham estratégias de contenção e inovação. São “learning organizations”, tem o conhecimento como valor e não como preço ou custo, apenas. Mais do que isso, aproveitam a prosperidade para construir uma estrutura de consciência social que lhes torne mais consistentes em termos de produção integrada e, assim, revelando bons navegadores quando o mar se revolta. Tratam cuidadosamente sua gestão do capital humano, do capital intelectual, do estrutural e do capital do cliente. São reconhecidas como “build to last”, ou seja, feitas para durar.
Aquelas em forma de U gastam tempo, na prosperidade, com efemeridades e celebrações ostentatórias, alavancam substancialmente seus investimentos estruturais e conquistam seus trabalhadores com a financeirização de seus prêmios e reconhecimentos. Em sua maioria não reagem imediatamente e até admitem que são invulneráveis à crise. Com o impacto da adversidade demoram a achar o rumo estratégico e patinam no lamaçal em que o mercado se transformou. Como não tem a forma de V, o conhecimento tácito não está acessível. Soluções de outras épocas adversas não foram sistematizadas e a há uma forte tendência de se começar tudo do zero. É possível perceber que as crises mundiais têm pontos em comum e, portanto, variáveis condicionantes à melhor solução podem ser reutilizadas. Mas, em muitas empresas, esse conhecimento se aposentou com alguém, foi levado na mente dos que saíram. O que lhes falta, então, é a sabedoria de épocas passadas, devidamente registrada.
As que representam o formato em L cultuam a lembrança. Listam dezenas de responsáveis pela crise. Todos externos à organização, na maioria das vezes. Vão se depauperando em um processo de autoflagelo e autofagia. Decisões aéticas e inidôneas ameaçam sua credibilidade e lhe conferem a ilusão da sustentabilidade. Nunca teve líderes, mas aproveitadores. Nem liderados, mas subservientes. Não priorizam a formação gerencial, mas a formação do poder político eleitoreiro. As crises podem ser vistas como darwinistas. E tudo indica que haverá uma seleção mercadológica com a crise atual.

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