Tuesday, April 28, 2009

Abertura do Comércio



Um dos temas bastante mencionados na mídia local diz respeito ao funcionamento do comércio nos fins de semana. Trata-se de um assunto apropriado tanto ao país Brasil quanto ao momento em que vivemos, com início de recessão em vários países do mundo.

Toda a polêmica dessa questão está no trabalho. Aliás, este tem sido alvo de análise há muito anos e belos estudos já foram publicados por Marx, Durkhein, Hanna Arendt e Weber, principalmente. É possível admitir que haja uma convergência entre eles ao considerarem o trabalho como a principal preocupação de uma determinada sociedade. A vida cotidiana, os sentimentos, as interações familiares e outras questões intrínsecas à vida humana são tratadas à margem dessas análises.

E, como propôs Weber, o trabalho em si seria a grande finalidade da vida, assim como o lucro justifica a atividade dos homens de negócios. Entretanto há uma grande percepção, e no Brasil isso assume proporções enormes, de que o trabalho está relacionado ao sofrer. É como se fosse uma punição trabalhar nos fins de semana ou nos feriados. Para muitos até nos dias de semana.

A origem da palavra nos permite algumas observações. Em latim clássico têm-se tanto laborare, no sentido de executar, como de sofrer, padecer. Também, operare, correspondente a opus, relacionado a trabalho e penalidades. Já em português, trabalho origina-se do latim tripalium, na verdade um instrumento pontiagudo em que se batiam os cereais para processá-los. É possível encontrar também a referência de instrumento de tortura para a mesma palavra. Portanto, há tanto o entendimento da criação, da produção, como da dor e do sofrimento. Para alguns, trabalhar pode ser um prazer, uma forma de conquistar seus ideais e realizar seus desejos. Para outros, um sacrifício.

Para os americanos, há uma distinção entre labor e work. O primeiro diz mais respeito a um esforço físico, um trabalho manual. Já o outro designa uma atividade realizada em busca de dinheiro. Labor, por exemplo, designa o trabalho de parto. É um processo vital. Já o work vincula-se mais a criação de bens materiais, coisas para serem usadas. No francês têm-se a diferença entre travailler e ouvrer; no italiano, lavorare e operare; no espanhol, trabajar e obrar; no alemão, arbeit e werk. Tanto work quanto werk designam melhor a criação de algo, já labor e arbeit dizem mais respeito à exaustão e ao esforço físico de alguém. No campo de auschwitz, estava escrito em seu pórtico: “Arbeit macht frei”. Talvez ousasse dizer que a liberdade passava pelo sacrifício, pela dor.

É importante observar que só o ser humano realiza trabalho proposital. Os animais, não. Quando se vê uma carroça puxada por um burro e dirigida por uma pessoa, só ela está trabalhando conscientemente, para obter algo. O animal age por instinto. Assim, para Marx, por exemplo, o trabalho pertence exclusivamente ao homem, pela sua intencionalidade.

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